Porque na iminência do movimento as forças de resistência se igualam à força aplicada. Deveria ser um momento de tensão. Mas não. É a mais perfeita calmaria. É o último instante de calmaria antes do caos. Calmaria, esta, causada por essa quase tensão. Mesma intensidade e direções diferentes. Assim sou eu: duas forças de mesma intensidade - razão e emoção - exercidades em sentidos opostos. Equilíbrio? Tensão camuflada? Eu diria que isso é ser pessoa.




sábado, 6 de março de 2010

Intimidade

As quintas-feiras eram ansiosamente aguardadas. Era quando eles se encontravam. Dispunham então de uma hora e quarenta minutos. Às vezes ela se arrumava, às vezes não. Mas sempre prestava atenção ao que ele dizia, havia algo de especial nele. Não que ele fosse bonito, tampouco atraente: era romântico e erudito – características as quais ela detestava – entretanto, tinha aquele quê de mistério e aquela postura de homem que a encantavam.

A menina o admirava e talvez o amasse (seu orgulho jamais a permitiria saber). É que aquele homem provocava nela uma espécie de epifania, ele era uma ponte entre ela e ela mesma, ele a atravessava, trespassava-a sem a ferir. E essa sensação de o ter dentro de si parecia divina exatamente por ser essencialmente humana, por ser resultado de um contato íntimo entre aquilo que há de mais humano em duas pessoas. Eram duas almas fazendo amor.

Já ele não se preocupava em criar metáforas as quais significassem tal intimidade sem toques ou carícias. Não se daria o trabalho de tentar compreender tudo aquilo, assimilar, conceituar para, por fim, expressar e compartilhar quando podia simplesmente sentir. Além disso, era ciumento, portanto compartilhar não lhe parecia uma idéia interessante, mas essa parte ele mesmo desconhecia.

E a cada quinta-feira o ritual se repetia. Eles se encontravam em um quiosque, na praia. Ele sempre pedia água de coco enquanto ela parecia querer experimentar tudo o que vendiam lá, a cada semana era um pedido diferente – só não pedia água de coco, pois não gostava. Iniciava-se a discussão. Geralmente alternavam, uma semana discutiam um clássico da literatura nacional, na semana seguinte estavam tratando de um ou outro autor regional contemporâneo e assim mudavam os estilos aleatoriamente. Ao fim dos encontros, eles trocavam críticas a respeito dos textos que eles mesmos compunham, as dela sendo na maioria das vezes mais duras e técnicas – o que revelava a admiração que ela rendia a ele.

Terminadas a críticas, que geralmente o deixavam chateado e confuso, eles combinavam novos temas para os textos da quinta-feira seguinte e seguiam para as dunas. Dali assistiam o pôr-do-sol, durante o qual, por várias vezes ele pensou em transformar aquele amor platônico em amor carnal. Todavia, o mais que chegou a fazer foi beijá-la o rosto, uma vez. Então, quando já escuro, despediam-se cerimoniosamente e se iam, esperar pela próxima quinta-feira.

2 comentários:

  1. Como vc sabe, eu amoo ser primeira em tudo, e aqui estou eu, sendo sua primeira seguidora e fazendo seu primeiro comentário. Niiiice! gosto bastante desse texto.Percebi q vc o modificou um pouco. Mas ainda tá bem legal! "Eram duas almas fazendo amor", realmente Gabriela!!! rsrs
    è isso aí, escritora, go ahead!!! I really apreciate the way u write. amo tu, sua besta!

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  2. Gabizinha, comento aki em nome d tds, minha opniao sobre seu texto se ja sab! =) adorei!o sentimento, se jeito de escrever... mtu legal!
    a o truismo ja esta em ativa se quiser divulgar-nos entre seus amigos e tbm se quiser enviar algum dos seus textos seria uma honra!
    bjs de seus amigos T-S!

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