Porque na iminência do movimento as forças de resistência se igualam à força aplicada. Deveria ser um momento de tensão. Mas não. É a mais perfeita calmaria. É o último instante de calmaria antes do caos. Calmaria, esta, causada por essa quase tensão. Mesma intensidade e direções diferentes. Assim sou eu: duas forças de mesma intensidade - razão e emoção - exercidades em sentidos opostos. Equilíbrio? Tensão camuflada? Eu diria que isso é ser pessoa.




sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ela se dirige à sala de dança firmemente. Esta é uma cena que se consegue lembrar em câmera lenta, um daqueles momentos dos quais a gente lembra cada detalhe, os passos determinados, a mão no cabelo, o olhar e o cumprimento discreto mas nunca imperceptível, e eu diria até muito notável exatamente pela simplicidade peculiar do ato. Normalmente ela daria festa, falaria com ele com um sorriso escancarado no rosto, simpática que é, mas não, deu um tchauzinho discreto e entrou na sala.

E eles tornam a se encontrar. Em festas, shows, restaurantes, moram na mesma pequena cidade, impossível seria não se verem. E sempre cumprimentos simpáticos e quase impessoais, frases feitas, criadas para evitar o constrangimento resultante do não se conhecer nem se desconhecer; para quebrar o gelo que existe entre pessoas que simplesmente não se importam uma com a outra. Sim, porque uma coisa é não saber da existência de alguém, outra coisa é a existência de alguém que você conhece não afetar de maneira alguma a vida sua vida.

- Oi, tudo bem?

- Tudo, e você?

E vou além, a convenção das frases feitas esconde mais: não é simplesmente questão de hipocrisia. É mesmo questão de egoísmo puro. Uma pessoa não suportaria saber que para a maioria dos outros seres ela é indiferente. Então, a fim de não se sentir a pior das criaturas, cumprimenta, apenas para ouvir de volta aquela velha pergunta: “E você?” Para ouvir uma doce mentira.

Todavia, toda história de amor começa com um cumprimento por convenção. As convenções estão na iminência do relacionamento: existem até não haver um relacionamento propriamente dito, e quando ele começa a dar os primeiros sinais de profundidade, elas simplesmente vão sumindo.

Perdoemos então as convenções, as hipocrisias e os egoísmos disfarçados, eles têm uma boa razão para existir. E retomemos o fio da história, mesmo porque, entre eles, as convenções vão caindo. E ele fala de suas dores e ela de suas conquistas, suas paixões.

A cada dia que passa se tornam mais importantes um para o outro. Não estão apaixonados, não. Ela tem namorado, ele ama outra moça. Mas o fato de saberem de algum interesse da outra parte mexe com eles de alguma maneira. Ele é um conquistador, por isso a ex-namorada o deixou e não pretende voltar mais. Ela é bonita e inteligente e misteriosa, ou seja, tudo o que uma mulher precisa para chamar a atenção do sexo oposto.

Além disso, o jogo deles é muito interessante: querem um ter o outro aos próprios pés, isso os faz sentir bem. Quem os pode condenar por isso? Por tentarem se conquistar? Na conquista eles estão redimidos. Claro! Se há interesse, há ao menos reconhecimento do valor do outro. Isso é o amor entre duas pessoas racionais. Não precisa doer, só precisa fazer sentir bem.