Porque na iminência do movimento as forças de resistência se igualam à força aplicada. Deveria ser um momento de tensão. Mas não. É a mais perfeita calmaria. É o último instante de calmaria antes do caos. Calmaria, esta, causada por essa quase tensão. Mesma intensidade e direções diferentes. Assim sou eu: duas forças de mesma intensidade - razão e emoção - exercidades em sentidos opostos. Equilíbrio? Tensão camuflada? Eu diria que isso é ser pessoa.




sexta-feira, 12 de março de 2010

Às raízes

O meu fim evidente, embora não seja atar as duas pontas da vida, é sim a restauração, o voltar a ser. Sim, não sou mais. Estou apenas. E esta volubilidade me cansa. Eu provei todas as máscaras e é incrível como todas me caíram bem – deveria, eu, ser ator? -, mas o ser o que se quer tem por preço o não ser o que se é e nessa relação custo x benefício não há caráter de equivalência.

Quero voltar a ser humano. Quero experimentar todas as sensações (senti-las não é suficiente, é necessário vivê-las de fato) desejo do fundo de minha alma a experiência do místico. Desejo ter fé. Quero ter a coragem de matar e de morrer por causas, ainda que perdidas, desde que eu acredite nelas. Quero proferir um discurso retórico. Quero sabedoria em vez de inteligência, quero amor em vez de paixão (mas ainda quero a intensidade e a volúpia da paixão, ou melhor, quero amor e paixão). Quero ser tão humano a ponto de ser divino.

Quero cometer todos os erros aos quais tenho direito. Quero me arrepender (de ter feito e nunca de não tê-lo) e chorar. Chorar de raiva, de emoção, só não vou chorar de tristeza. Quero não saber (mesmo sabendo que não devo querer). Saber implica na responsabilidade de fazer mas para fazer é preciso mais que coragem, é necessário assumir que sei e dizer que sei é prepotência, muito embora não dizê-lo, sabendo que sei, seja covardia.

Quero a liberdade dos românticos, a delicadeza do bater de asas do beija-flor, quero a honra grega. Quero voltar à semente, ao estado de latência, à inércia, pois só na inércia se compreende que passado e futuro não existem porque não importa a data de hoje e também não importa se é sábado ou quarta-feira, desde sempre e para sempre é hoje e quando, daqui a cem anos, me ledes ainda será hoje, será agora para ser mais (ou menos) exato.

E quero, depois de ter vivido tudo o que um homem pode viver e sentido tudo o que um homem pode sentir, uma morte comum, um enterro simples com a presença de pessoas sinceras e um sereno triste, para dar um ar de poesia. Se haverá algo depois disso, pouco importa, desde que a vida tenha valido a pena. Carpe Diem.

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