É incrível como às vezes, nos locais mais inusitados, somos premiados com a oportunidade de aprender alguma coisa. Ocorreu que fui ao cabeleireiro, e, como previsível, tive que esperar um pouco antes de iniciar o serviço. Ofereceram-me, então, uma revista daquelas que têm um monte de dicas de beleza, aquelas que têm a “capacidade” de fazer qualquer mulher se sentir horrível – com o objetivo de fazer com que você gaste mais no salão de beleza. Pois, bem, folheando a revista, encontrei uma espécie de trecho de conversa entre dois comediantes no qual eles reclamavam por suas piadas sobre religião não serem aceitas, e, até serem criticadas.
Inicialmente, não é tão chocante o fato de as pessoas respeitarem todas as crenças e exigirem respeito por elas. Entretanto, ultimamente tenho me perguntado se essa palavra, “respeito” não está sendo empregada no lugar de “indiferença”. Desta maneira, exploremos um pouquinho o significado dessas duas palavrinhas.
Respeito quer dizer acatamento, autoridade, compostura, consideração, acato; enquanto indiferença significa apatia, insensibilidade. Observando a diferença de significado das duas palavras pode-se dizer que respeito tem a ver com valorização enquanto indiferença está relacionada à desvalorização.
Voltando ao assunto do respeito pelas diferenças, o que penso é que a postura esperada pela sociedade considerando alguém que se diga “respeitoso” é a aceitação incondicional e acrítica de toda e qualquer manifestação cultural. Essa postura implica a aceitação de todos os valores, incluindo, assim, valores contraditórios, resultado disso a equivalência de todos os valores.
Em outras palavras, não importa em quais valores alguém se baseia ou em que alguém crê, isso simplesmente é desconsiderado, é indiferente. E se me é indiferente, significa que não fere meus valores. A indiferença mediante os valores do outro representa a descartabilidade dos meus próprios valores, o que pode ser um reflexo da ordem da sociedade contemporânea.
Assim sendo, percebe-se que, a fim de se falar de respeito com relação às diferenças, é imprescindível que se tenha noção de valor, ou seja, eu preciso saber o que é importante para mim para que eu possa reconhecer e respeitar o que é importante para o outro, mesmo que eu reconheça que me é indiferente ou inconveniente. Com essa postura, é possível o diálogo entre diferentes sem a necessidade de violência.
O que pretendo aqui não é propor novas cruzadas e sim respeito de verdade para com o outro. Mas, para isso, é necessário que haja antes de qualquer coisa consciência de quem eu sou, das coisas nas quais eu creio, das coisas que fazem de mim eu mesmo e respeito por todas essas coisas. A partir daí, sim, é coerente falar em respeito pelo diferente.
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